1. Introdução
p>Considerado um tema relativamente jovem, o empreendedorismo social vem atraindo a atenção de pesquisadores devido a sua contribuição e destaque na sociedade com a geração de impacto social positivo que esse tipo de empreendimento busca como resultado. O aumento crescente de pesquisas, publicações e conferências sobre o tema evidenciam o interesse pelo assunto.A despeito da sua relevância, o conceito de Empreendedorismo Social (ES) ainda carece de uma definição mais precisa e um paradigma unificador, capaz de delimitar um campo de estudo (Bose, 2013). Embora a maioria dos artigos apresente, no núcleo central das discussões, a questão social, a literatura sobre ES se demonstra dispersa. Nos artigos seminais é possível identificar questões que abordam a comunidade em sociedades pluralistas (Miller, 1988), o papel da inovação no contexto do ES (Ganne, 1989), programas socioeconômicos e seu impacto no desenvolvimento de ES e microempresas (Lindøe, 1994), entre outros.
O ES tem sido alvo de estudo há cerca de 30 anos, mas o aumento do interesse pelo tema é observado nos últimos 10 anos, conforme dados da base Scopus. É possível identificar discussões que buscam uma definição sobre o ES e suas características únicas, e sobre empresas sociais. Alguns autores, por exemplo, realizaram revisões sistemáticas da literatura sobre ES com o propósito de diminuir a falta de clareza no tema (Thompson, 2008), de explorar o conceito de crescimento do negócio (Hynes, 2009) e de fornecer uma visão abrangente da literatura acerca da sua implementação legal (Gurtoo, 2009). Dacin, Dacin e Tracey (2011) buscaram desenhar um campo de investigação para a área de ES e apresentaram questões de pesquisa para estudos futuros. No entanto, não foram identificados estudos que apresentassem os campos possíveis de investigação no ES capazes de nortear as tendências gerais da área.
Dessa forma, levando em consideração essa lacuna, este estudo apresenta os resultados de uma pesquisa bibliométrica cujo objetivo foi identificar a evolução do estado da arte em ES mapeando e delineando os diversos campos de estudo sobre o tema. Numa amostra composta por 296 artigos identificados na base de dados Scopus, foram realizadas análises de citações e cocitações, bem como análise fatorial para identificar os principais temas de pesquisa, o conhecimento acumulado e as tendências futuras sobre o tema.
Os resultados permitiram identificar a existência de um equilíbrio entre as publicações que tratam sobre o empreendedor social e o empreendimento social. Quatro categorias de pesquisa foram observadas: sociedade, estudos em ES, educação e políticas de habitação. Na análise fatorial exploratória (AFE) foram identificados seis fatores que mapeiam os campos de estudos em ES: ES informal e ou irregular; empreendedor e ES; contexto e campo das empresas sociais e o ES; empreendimentos sociais autossustentáveis; motivação social; ES, construções e narrativas. Não obstante os temas abordados na área, há uma preocupação dos autores em definir o fenômeno ES, as funções e motivações do empreendedor social, suas características e competências. Algumas possibilidades de futuras pesquisas são a necessidade de validar instrumentos de coletadas de dados, estudos sobre sucesso, sobre empreendedorismos e motivação nas relações sociais, so bre o desenvolvimento de iniciativas que envolvam o ES nas escolas. Os resultados também apresentam os estudos seminais, os periódicos que mais publicam sobre o tema, os contextos que descrevem o ES, os fatores teóricos que o englobam, a contribuição dos principais autores e suas agendas de pesquisas.
Na sequência desta introdução, é apresentada a seção 2, contendo o marco teórico onde foi feita uma breve revisão da literatura sobre empreendedorismo social; na seção 3, são abordados os aspectos metodológicos; na seção 4, são apresentados e discutidos os resultados, bem como apon tadas as tendências de investigação futura; por fim, na seção 5, são feitas considerações finais.
2. Marco teórico: empreendedorismo social
O tema ES vem despertando o interesse de pesquisadores, especialmente devido às suas contribuições sociais. Muitas são as interpretações, concepções, entendimento e contextos a respeitos deste campo de estudo. Algumas discussões merecem destaque, entre as quais a tentativa dos estudiosos de conceituar a natureza do ES, seu funcionamento e impacto social.
O conceito ES abarca dois elementos principais na sua definição: o empreendedor e o social. Waddock (1988) relacionou o elemento social às práticas socialmente responsáveis nos negócios. O elemento social é relacionado com “iniciativas em busca de estratégias alternativas de financiamento ou gerenciamento de esquemas para criar valor social” (Mair e Marti, 2006, p. 37) e visto como meio de aliviar problemas sociais e catalisar a transformação social (Alvord, Brown e Letts, 2004). O elemento empreendedor, por sua vez, está relacionado com a personalidade do empreendedor social e a natureza empreendedora, abordando questões sobre o intraempreendedorismo no setor empresarial e social, e a inovação no processo empresarial (Mair e Marti, 2006). Ainda sobre a definição do termo ES, a Foundation Schwab define o ES como a busca por tentar resolver problemas sociais por meio de ideias inovadoras, evidenciando os elementos social e empreendedor (Oliveira, 2004).
Com relação aos motivos que vêm movimentando as pesquisas sobre ES, Peredo e Mclean (2006) mencionaram três. O primeiro motivo diz respeito à relevância de conhecer os diferentes padrões de avaliação do ES. O segundo está relacionado à possibilidade de o ES ser um instrumento promissor para abordar as necessidades sociais. O terceiro trata sobre as competências gerenciais dos em preendedores sociais.
A evolução dos estudos na área de Empreendedorismo Social centra-se no domínio das organizações não lucrativas e não governamentais (Assaf Neto, Procópio de Araújo e Ferraz do Amaral, 2006). São abordadas questões relati vas às condições de vida dos pobres e menos privilegiados, ao desenvolvimento econômico, social e da comunidade e aos efeitos da realização da missão social (Weerawardena e Mort, 2006), com atenção especial ao setor do voluntaria do (Thompson, 2002).
Arin, Huang, Minniti, Nandialath e Reich (2015) mencionaram que a pesquisa sobre ES pode estar vinculada ao contexto estudado. No referido estudo, os autores exploraram os comportamentos dos empreendedores sociais no terceiro setor e as atividades do pré-empreendimento que acontece antes da criação de uma organização sem fins lucrativos. Ao final, constataram que o ES, enquanto processo, pode ser considerado uma emergência social cujo o ponto de partida é a família, caminhando em direção à formação da organização para atender desafios da sociedade.
Outra abordagem trata o ES como uma construção multidimensional enraizada na missão social da organização e no seu foco na sustentabilidade (Weerawardena e Mort, 2006). De acordo com essa concepção, o empreendedor social é aquele que apresenta um comportamento inovador com o propósito de assegurar o acesso aos recursos para o empreendimento, ao tempo em que cria um valor social para a organização onde atua.
Embora o ES possa ser apresentado sobre muitos tipos e formas, a literatura mostra-se incipiente sobre quais os tipos de política que devem visar as ações empreendedoras e qual o impacto desejado pelos decisores políticos a partir dessas ações (Terjesen, Bosma e Stan, 2015). Emerge, pois, a necessidade de estudos aprofundados sobre ES para definição de eixos temáticos que possam apoiar estudos e ações do tema. Após essa breve retomada conceitual sobre o campo de estudos do ES, a seguir, apresenta-se o método de pesquisa.
3. Metodologia
Com o objetivo de analisar as publicações sobre empreendedorismo social e mapear os eixos de estudo sobre o tema, o presente artigo é resultado de um estudo bibliométrico, método pautado nas leis de Bradford, Lotka (LL) e Zipt (Fonseca, 1986). A bibliometria facilita a análise do conhecimento acumulado em determinado assunto, por meio da incidência de palavras, dos autores e coautores, das ins tituições e países aos quais os pesquisadores são filiados e outros dados que permitem a análise do estado da arte do tema em estudo. A base de dados Scopus foi utilizada como ferramenta para a seleção de dados, a partir do uso da palavra-chave “Social Entrepreneur”, o termo empreendedorismo social nos títulos, resumos e/ou palavras-chave, restringindo a busca somente a artigos quanto ao tipo de documento. A busca foi feita no dia 21 de março de 2016 e retornou com 304 artigos. Foi realizada a leitura dos títulos, resumos e palavras-chave dos artigos para verificar se re almente tratavam sobre empreendedorismo social. Nessa triagem, oito artigos que não se enquadravam no contexto foram removidos, totalizando uma base de 296 artigos.
Os artigos foram analisados quanto ao ano de publicação, periódicos em que foram publicados, autores, palavras mais frequentes, similaridade de palavras e eixos temáticos. Para a análise dos artigos por similaridade de palavras, fez-se uso do software Iramuteq, que considera o método de Reinert (1993) para organizar a coocorrência das palavras, para analisar corpus de texto (Sbalchiero e Tuzzi, 2016). A Análise Fatorial Exploratória (AFE), feita com o software Bibexcel, foi usada para averiguar as possíveis linhas conceituais (eixos temáticos) dentro do grande tema ES. Também foi usada a Análise Fatorial de Correspondência (AFC), por meio do software SPSS.
A base de dados Scopus possui uma ferramenta de seleção que permite classificar a busca em diversas categorias, dentre as quais por autor, data, título, citação ou relevância. Foram selecionados os 20 artigos mais relevantes da amostra, que originaram um quadro com a consolidação dos seus respectivos objetivos, contribuições e indicações de pesquisas futuras.